Sem novidades quanto às reivindicações, servidores do Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Norte (Detran/RN), em greve desde o último dia 13, procuraram deputados para solicitar a formação de um grupo de parlamentares para intermediar a negociação com o Governo do Estado que, segundo a categoria, evita sentar à mesa para encontrar uma solução. Paralisados por tempo indeterminado, grevistas apresentaram uma pauta com mais de 15 pontos a serem discutidos, dentre os quais o pagamento de 70% dos Planos de Cargos e Salários, aprovado em 2010, e melhorias nas condições de trabalho.
Na manhã desta terça-feira (28), o movimento na autarquia foi alterado pela presença da Polícia Militar, acionada para liberar o portão de entrada, bloqueado pelo comando de greve, e permitir que a população procure os poucos serviços disponíveis. “Estava fechado do outro lado, não aqui na entrada principal. Não proibimos a entrada de ninguém, mas a lei permite a persuasão, a tentativa de convencer uma pessoa em favor de nossa causa”, diz o presidente do Sindicato dos Servidores da Administração Indireta do RN (Sinai-RN), Santino Arruda.
Segundo ele, faz mais de 75 dias que o Governo recebeu a pauta de reivindicações.
Todos os setores do Detran foram afetados pela greve. No de atendimento geral, cuja procura por regularizar e receber documentos responde pelo maior fluxo de pessoas, apenas um funcionário estava no local. Iran Souza, assistente administrativo, fala em menos de 20% de serviços mantidos. “Aqui mesmo ficam quatro, mas só eu vim trabalhar. Sou a favor da greve, mas dentro da condição que o Governo tem a oferecer” – o Estado alega que o limite prudencial impede o reajuste pleiteado pelos grevistas. Com salários abaixo do determinado pelo concurso público realizado três anos atrás, alguns cargos pagam valores menores que o mínimo.
De Ielmo Marinho, município do Agreste Potiguar, distante 55 quilômetros da capital, José Leonardo Damasceno partiu logo cedo em direção ao Detran, animado com a possibilidade de pagar o licenciamento e pegar o documento definitivo de sua moto de 125 cilindradas. “Cheguei aqui cedo e paguei os R$ 430. Aí quando vim aqui para saber do documento, eles disseram que o sistema está fora do ar e que não tem previsão de retorno. Mandaram eu esperar. Quer dizer, para receber dinheiro eles estão funcionando? Já é a segunda vez que venho aqui, em menos de uma semana, e não resolvo nada”. O servente de 23 anos faltou ao trabalho e planeja gastar mais de R$ 50, entre transporte e alimentação, para passar a manhã em Natal.
Outro que reclamava da falta de atendimento era o pedreiro Jailson Filho de Lima, que veio de Macaíba para receber a papelada referente a seu Corsa 1996. Há 45 dias ele fez todo o procedimento para renovar o documento, “mas até agora, nada. Vim ontem e hoje aqui e eles só dizem que o sistema está fora do ar. Todo mundo diz que isso é coisa do povo da greve, mas ninguém fala nada certo para a gente. Soube que meu documento já está pronto, mas não me entregam. Vim com a idéia de ficar aqui até o meio-dia para resolver de todo o jeito. Eu preciso desse documento”.
Um dos deputados procurados pelo comando de greve dos funcionários do Detran, Kelps Lima (PR) destaca a independência que o órgão deveria ter, como dono de uma fonte de arrecadação diferenciada, e a falta de comunicação entre Governo, grevistas e a população, que termina como a mais prejudicada. “O Detran tem que ser tratado como um caso à parte, pelo nível de arrecadação que possui [segundo funcionários, mais de R$ 10 milhões só em abril último]. O Governo tem que revelar sua opinião, sua posição nessa greve. Chegar para os funcionários e para a população e dizer o que ele pretende fazer ou não fazer. Nosso papel será apenas de conduzir as negociações, que, até onde sei, estão paradas”.
Santino Arruda fala que amanhã (29), uma reunião com representantes do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (Emater) definirá se mais um órgão da administração indireta entrará em greve. “Já tivemos essa reunião com a Fundação José Augusto e teremos também com o Idiarn [Instituto de Defesa de Inspeção Agropecuária]. Está todo mundo unido para reclamar direitos que não estão sendo cumpridos. O Governo descumpre uma determinação judicial de nos conceder o aumento”.
*reportagem publicada no Jornal de Hoje desta terça-feira (28)